Sebastian Stan é a capa desse mês da revista americana Backstage, e concedeu uma entrevista sobre sua carreira, além de posar para uma sessão de fotos. Confira a entrevista traduzida:

Digamos que você interpreta um soldado americano com um severo quadro de estresse pós-traumático, lutando para se adaptar novamente a sociedade. Pelas últimas décadas, você sofreu uma grande lavagem cerebral para esquecer a compaixão e aceitar a violência ao ponto da dessensibilização, mas as memórias de sua antiga vida como um homem decente começam a emergir. Parece complicado para um ator, certo?

São os desafios que encaram Sebastian Stan em ‘Capitão América: Guerra Civil’, a mais nova adaptação de quadrinhos da Marvel Studios. Não se engane pelas sequências de ações estrondosas e glamurosas produções; os atores interpretando os super herois devem exercitar seus músculos de atuação tanto quanto em dramas de prestígio — isso sem falar de seus músculos literais.

“Quando vou trabalhar, eu não descrimino o filme como um filme de quadrinhos,” diz Stan tomando café em Manhattan. “É comprometimento total. É tudo que posso fazer.” Stan e seus colegas de elenco da Marvel, que includem nomes de peso de premiações como Mark Ruffalo, Tilda Swinton e Michael Douglas, usam todo o seu talento para elevar o gênero.

“Os filmes de quadrinhos são mitológicos, de certa maneira, e há muitos paralelos neles com o que está acontecendo no mundo real e as pessoas querem discutir,” Stan aponta. Seu personagem em Capitão América: O Soldado Invernal, por exemplo, é um cicatrizado veterano sem um lugar para chamar de lar; Stan precisa apenas olhar para os veteranos atuais para atuar com seriedade. “Muitas dessas pessoas voltam e não sabem funcionar no mundo novamente. O mundo não os aceita do mesmo modo. Foi uma grande parte da jornada desse personagem no filme: entender o mundo no qual ele finalmente se encontrou. Como ele se adaptará?” 

Esse nível de preparação não é realmente associado com os rankings de sci-fi que geral bilhões de dólares. “As pessoas tem estigmas quanto a isso,” diz Stan francamente. “Sei que quando as pessoas me consideram pra algum papel, às vezes elas pensam ‘Mas ele está em um filme de quadrinhos.’ E eu fico tipo ‘Mas eu estou me acabando pra fazer o melhor que eu posso!’ “.

“Sebastian incorpora a noção e trabalha muito duro,” diz Joe Russo, que dirigiu ‘Civil War’ e o segundo filme da franquia, ‘The Winter Soldier’. “O level de comprometimento dele é fantástico. Ele realmente encontra o melhor nível de detalhes em sua performance.” Em estabelecer um meio termo entre Bucky e o Soldado Invernal, ele diz, Stan diz muito sem realmente falar quase nada. “É a coisa mais difícil de se fazer como ator, passar emoção e contexto sem dizer nada.”

Anthony Russo concorda. “Ele teve que mostrar muita vida interna e complexa. Eu acho que quando você o vê interpretar o personagem assim, você vê a complexidade em seus olhos e físico. Ele conta uma história incrível usando apenas essas ferramentas.” E ajuda o fato de Stan ser realmente atraente nas telas. “É aquela frase: a câmera realmente o ama.”

De acordo com Stan, escutar é um dos maiores desafios na frente das lentes. Ele se maravilha com a capacidade de Marlene Dietrich a permanecer imóvel e permitir que o público projete emoção sobre ela. “O truque é desligar seu cérebro,” ele diz. ” ‘Seja interessante! Faça algo interessante! Você está há muito tempo no mesmo ângulo!’ Tem que ter coragem e tenho que lidar com aquela parte do cérebro que adora editar e censurar você. Alguns talvez não tenham isso. Eu tenho.”

Seu passado teatral tem parte da culpa. Nascido na Romênia e criado em Nova York, Stan tinha 15 anos quando entrou no acampamento Stagedoor Manor para jovens atores. De lá ele contratou um agente e trabalhou com Audrey Kaplan no Applause Theatrical Workshops, acabando na Universidade Rutgers Mason Gross School of the Arts. (Como qualquer aspirante a ator da época, ele navegava por entrevistas da Backstage e procurava por chamadas de elenco o tempo todo.)

O único modo de aprender a técnica das câmeras, ele continua, é realmente fazendo. “Quanto mais cedo você começa melhor, porque é a essência completa. Eu escutava a palavra ‘verde’ o tempo inteiro nos primeiros anos, ou ‘não tem exeperiência suficiente’, ou ‘fazendo muita coisa’ ” De fato, por quase 3 anos após a faculdade, Stan apareceu pra incontáveis chamadas de elenco e conseguiu aproximadamente zero.

“A maior parte das pessoas que admiro como atores não conseguiram nada até seus 30 e poucos. Os Mark Ruffalos, John Hawkeses do mundo.” De qualquer jeito, como é aguentar anos de rejeição na boa? Stan tem uma particularmente macabra memória. “Uma das minhas primeiras grandes audições com um diretor de Nova York — que é incrível, mas não direi seu nome— eu cheguei no teste, eles estavam no computador escrevendo um e-mail.” Ele faz mímica de digitação, batendo os dedos na mesa. “A assistente estava atrás deles. Eu disse ‘oi,’ e eles não se viraram. Disseram ‘Sim, vá em frente’, e quando li com a assistente, eles nem se viraram, nem uma vez! Eu estava na mesma sala que eles, eles continuaram escrevendo um e-mail enquanto eu estava ali atuando. Foi brutal.” 

Mas ali está a chave de um ator para o sucesso. “Eu sempre procurava por audições, mesmo que eu não conseguisse o trabalho, só pra me conectar com o diretor de elencos para eles lembrarem de mim uma próxima vez,” ele diz. Paciência e perseverança foram recompensados: esse mesmo diretor, depois de pelo menos mais 10 audições nos próximos 2 anos, deu a Sebastian seu primeiro trabalho importante.

“Aqueles anos iniciais, olhando agora, podem ter sido difíceis e dolorosos mas houve algo ótimo sobre eles. E uma vez que acaba, acaba.” Por mais louco que isso soe, houve uma mentalidade de “não-há-lugar-para-ir-além-de-para-frente” que se provou libertadora nas salas de audições e fitas que Sebastian enviaria. “Você tem a oportunidade de experimentar mais,” ele diz. “Era simplesmente ‘consiga um trabalho, qualquer trabalho’, e depois você fica muito grato por trabalhar.” 

E ele trabalhou. A credibilidade de Stan com as câmeras cresceu com aparições em “Gossip Girl” e “Kings”, e ele fez uma barulhenta estreia na Broadway em 2007 com a peça “Talk Radio.” Depois de ver essa performance, um impressionado Jonathan Demme escreveu um papel para Stan em “Rachel Getting Married,” uma colaboração que cresceria anos depois com “Ricki and The Flash.” Foi durante a produção de “A Aparição” (um filme de terror que Sebastian diz que recebeu “tipo, 5% de aprovação no Rotten Tomatoes”) que o produtor Joel Silver o colocou em “Capitão América: O Primeiro Vingador”.

Para Stan, entrar no reino de blockbuster é aceitar a luta inicial, ao invés de deixá-las mais difíceis. “Expectativas,” ele diz “realmente te fodem. Tudo bem ter sonhos, tudo bem ter objetivos, em minha opinião. Mas é muito mais sobre a escalada e o trabalho que você tem na subida. A escalada é realmente muito difícil e complicada, mas é também a melhor parte porque ainda há lugares para se escalar.” Com seu grande momento — trabalhando com Ridley Scott em “The Martian” e roubando a cena em “The Bronze” — e sua paixão pelo processo, é apenas uma questão de tempo para que Stan alcance o topo.

Enquanto ele se prepara para mais divulgação de Capitão América, Stan se lembra de algo que seu professor de atuação e mentor Larry Moss o disse após a graduação. “Ele disse, ‘É melhor você começar a amar o processo —conseguir o trabalho, trabalhar no personagem. Comece a amar a experiência mais que os resultados.’ ”

Mesmo as horríveis audições?

“Você não tem que amar as audições, não,” ele diz com uma risada. “Você só tem que amar para o quê você está fazendo o teste.” 

Traduzido e adaptado pela equipe Sebastian Stan Brasil. Não reproduza sem os devidos créditos!