ESQUIRE – Em Janeiro desse ano, enquanto filmava I, Tonya, Sebastian Stan apareceu em um bar para se encontrar com um monte de seus colegas de elenco da Marvel em Atlanta. Essas são pessoas que ele conhece pelo menos desde 2010, quando foi escalado como Bucky Barnes em Captain America: The First Avenger, um filme que começou uma das maiores franquias de filmes da história moderna e a própria carreira de Stan. Desde esse primeiro filme do Capitão, ele repetiu o papel em duas sequências; e também aparecerá em Avengers: Infinity War, que começou a filmar no início desse ano. Ele é amigo próximo de alguns dos mais reconhecidos astros de filmes de super herois no planeta. Eles são o povo dele.

Mas quando ele entrou naquele bar, ninguém sabia quem diabos ele era.

“Eu entrei e fiquei no meio de onde todo mundo estava conversando e percebi que ninguém me reconheceu,” Stan diz. “Eu estava com esse cabelo bem curto, um bigode sem costeletas, e estava muito pálido. Fiquei ali por uns minutos até que percebi, fui até alguém e falei ‘Ei, sou eu.'”

Você não pode realmente culpá-los. Em I, Tonya, Stan não se parece em nada com o gasto e traumatizado Bucky Barnes. Ele se transforma em Jeff Gillooly, o estranho marido de Tonya Harding e um vilão da história da patinação artística que serviu tempo de cadeia pelo envolvimento no ataque contra Bancy Kerrigan antes das Olimpíadas de Inverno de 1994. Com o cabelo curto e o bigode, Stan assume o temperamento suave-até-que-explode e a voz doce e delicada dele. É uma semelhança arrepiadora com o homem que ajudou a destruir a carreira de uma das melhores patinadoras artisticas de todos os tempos – mas permitiu que ela levasse a maior parte da culpa em público.

De fato, se eu não soubesse que Stan é quem interpreta Gillooly, eu talvez não tivesse reconhecido o ator mundialmente conhecido da Marvel – uma confissão que ele fica feliz de ouvir.

“Você sempre espera desaparecer em algo,” Stan diz, aceitando o elogio. Para se aprofundar no personagem, ele passou um mês e meio ouvindo entrevistas com Jeff Gillooly. Ele também assistiu todas as filmagens que podia encontrar, e eventualmente viajou para Portland, Oregon, onde passou 3 horas conversando com Gillooly – que mudou o nome para Jeff Stone – em um restaurante mexicano da cidade.

Stan admite que estava nervoso de conhecer o quase esquecido Gillooly; alguém poderia imaginar que Jeff teria o mesmo receio. “Naquele ponto, a única coisa que eu me importava era ver o físico, maneirismos, qualquer coisa que eu pudesse captar dele,” Stan diz. “A primeira coisa que ele perguntou pra mim foi, ‘Porque alguém veria isso? Porque alguém assistiria esse filme? Porque você decidiu que queria estar nesse filme?’ Minha impressão foi que deve ter sido estranho pra ele revisitar essa historia. Não é algo que ele queria falar sobre.”

Gillooly é um personagem desafiador de se interpretar, tanto moralmente quanto em termos de imitação física. Entretanto, Stan faz exatamente o que precisa, que é tirar um pouco da culpa de Tonya em uma reexaminação do ataque de Kerrigan. O filme mostra Harding como a vítima nas mãos da mídia, na comunidade de patinação, pobreza, a mãe dela e a masculinidade tóxica de Jeff. Em termos de performance, Stan brilha ao lado da brilhante, simpática e merecedora de Oscar interpretação de Margot Robbie, com seu próprio personagem cheio de complicações. s a challenging character to play both morally and in terms of physical imitation.

Enquanto I, Tonya examina a vida e carreira da atleta com lentes amplas, os momentos mais íntimos – compartilhados por Robbie e Stan – são por vezes perturbantes. A comédia sombria do filme tem polarizado as críticas e audiência, mas representam as tentativas do screenwriter Steven Rogers (não, não AQUELE Steven Rogers) de mostrar a relação dos dois a partir das “contraditórias” entrevistas com Harding e Gillooly. Isso significa que vemos também as acusações de Harding de violência doméstica, mas também a versão de Gillooly – na qual ele insiste que era um marido que apoiava sua esposa egoísta. Stan admite que essas partes na narrativa foram desconfortáveis para ele filmar assim como são de assistir. “Foi difícil para mim com ele papel,” ele diz, “porque foi difícil interpretar essas cenas.”

Apesar da estranheza que era filmar momentos violentos, o ator diz que é grato de ter tido Robbie ali para trabalhar a complexidade dessas cenas. “Muitas vezes nós apenas ríamos um do outro – não por causa do conteúdo, mas porque os dois estavam com dificuldades de fazer aquilo ficar acreditável. Não somos esse tipo de pessoa. Como podemos convencer os outros disso?” Stan diz. “Teve uma vez no carro que estávamos gravando uma cena tipo, 3 da manhã. Era bem séria. Estávamos nos preparando; eu usava uma blusa gola alta branca, e Margot estava no banco de passageiro com sangue falso em todo o rosto dela. Olhei pra ela e disse “Ei, como você está?” ela disse “Bem, e você?” e aí ela riu e disse ‘Quem a gente se tornou?'”

Esse é um filme que aparece em uma hora em que a mídia e indústria de entretenimento está focada em expor homens abusivos em posições de poder. Isso torna I, Tonya especialmente desconfortável de assistir. Mas Stan espera que algumas das cenas mais brutais ajudem a incentivar a conversa sobre essa revolução contra o patriarcado.

“Seria um mundo muito solitário se você, como homem, tivesse que recorrer a esse tipo de comportamento para se sentir com valor, para sentir que está sendo levado a sério. É covarde,” ele diz. “É óbvio pra mim que somente alguém que se sente extremamente emasculado poderia se comportar desse jeito. E o que isso diz sobre a masculinidade? Agora, mais que nunca, é o momento de revisarmos o conceito de masculinidade. A violência infelizmente sempre esteve no meio desse conceito, nessa coisa de alfa. É mais complicado que isso.”

Mesmo na sua carreira na Marvel, Stan teve a chance de analisar as complexidades da masculinidade em sua atuação. Em termos de personagens de quadrinhos, Bucky é um dos mais dinâmicos: ele é o amigo de infância do Capitão América que é reprogramado para se tornar o misterioso assassino conhecido como Soldado Invernal. As vezes vilão, as vezes herois, Barnes representa o espectro do bem e do mal, onde homens tem a habilidade de fazer coisas ótimas ou terríveis. Isso foi uma base para Stan fazer papeis mais dramáticos e sérios como I, Tonya.

O filme vem em um momento chave na carreira de Stan, onde o sucesso dos filmes da Marvel o deram a oportunidade de explorar projetos mais desafiadores como esse. Ele está trabalhando em um filme em Los Angeles, do diretor Karyn Kusama, onde ele e Nicole Kidman interpretam policiais disfarçados que se infiltram em um culto. Mas a Marvel ainda está no cenário, e quando pergunto se ele já considerou fazer um filme solo de Bucky, ele quase pula da cadeira. “Não sei quando… -batendo na madeira- isso seria uma experiência incrível,” ele diz. “Eu faria a qualquer momento. Definitivamente há muito a ser explorado. É divertido, e o cara tem alguns problemas com a identidade dele.”

E falando em Sebastian estrelar em spin offs de propriedades enormes: no dia anterior a essa entrevista, uma imagem de photoshop do ator como Luke Skywalker viralizou no Reddit. É tão convincente que Mark Hamill até começou a se referir a Stan como ‘seu filho’.

“Sinto que meio que tenho a bênção dele,” Stan diz. “Eu nem percebi, na verdade. Eu amava Luke quando era mais jovem. Então um amigo me disse, eles já fizeram o jovem Luke Skywalker, então você seria o Luke de meia idade.”

E o vão não preenchido entre Return of the Jedi e The Force Awakens, Stan pensa? “É aí que eu entraria.”

Ele provavelmente desapareceria nesse papel também. E agora é definitivamente a hora onde devemos dar valor a um homem que pode interpretar tanto herois quanto vilões com o olhar crítico que Stan traz aos dois.

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